
Apesar do longo período da instalação do processo de ocupação na América do Sul onde optou-se por misturar desbravadores, novos ocupantes e população local, o processo de urbanização se intensifica tanto no sentido original de ocupação em áreas já utilizadas assim como pela ocupação das áreas descartadas pelo processo de construção das cidades e,pior, deixando as áreas áreas ambientais serem invadidas pela população que não tem acesso ao custo que representa viver na cidade legal.
Este intenso processo de crescimento das áreas urbanizadas já intensamente definidas pela presença da população de baixa renda, apresentam baixo ou muito baixo indicador da presença de equipamentos sociais,assim como sobrevivem em razão da ocupação ou de áreas ambientais ou com altos problemas ligados à ocupação.
Outro elemento importante na precarização das área urbanas consiste nas importantes mudanças e impactos produzidos pelas modificações advindas das profundas alterações ocorridas no seio das atividades econômicas realizadas nas cidades, onde os instrumentos tecnológicos tem substituído a mão de obra urbana, precarizando, dessa maneira o acesso ao trabalho e à renda para poucos.

Dessa maneira, como se diz no jargão popular, o barato sai caro, e vem ficando mais caro à medida que o aumento da população urbana continua e, sem que existam planos para habitação de interesse social, dar apoio e sustentação em casos de urgência torna-se tarefa extremamente complicado.
Segundo o estudo realizado por Norma Valêncio no estudo “O Desastre como Objeto de Reflexão das Ciências Humanas: discussões recentes das relações entre os gestores e os afetados” , a Política Nacional de Defesa Civil (PNDC) do Brasil, instituída por decreto em 1995, criou o Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec) cujos órgãos, nos três níveis de governo (municipal, estadual e federal), deveriam agir integradamente e em prol do cidadão na redução de desastres; ou, em vista do desastre, ampará-lo. A PNDC reporta, como objetivo geral da defesa civil, a garantia do direito natural à vida e à incolumidade em circunstância de desastre, para o que elegeu, discursivamente, reduzir os desastres através de ações de prevenção, preparação, resposta e reconstrução .
Ainda segundo Norma Venâncio há, contudo, uma contradição entre o objetivo supra e sua materialização através das práticas dos agentes do Sindec, as quais, ao invés de atenuarem, recrudescem a vulnerabilidade de grupos empobrecidos país afora. Ainda segundo a autora, a cada ano, famílias que se veem na injunção de habitar moradias subnormais, sobretudo nas periferias urbanas, enfrentam os episódios de deslizamentos, inundações, enchentes, ventos fortes, que abatem seus frágeis imóveis e corroem sua capacidade de sobreviver. Diante o desastre vivenciado, as interpretações da defesa civil invisibilizam a responsabilidade pública pelo ocorrido e imputam-na aos próprios afetados. Associado a isso, há a prescrição de recomendações paliativas para que essas pessoas se adequem à desigualdade territorial e à subcidadania.
Segundo David Harvey no seu livro “Cidades Rebeldes”,, Em grande parte do mundo capitalista, as fábricas desapareceram ou diminuiram tão dráticamente que dizimou-se a classe operária industrial clássica. Ainda segundo Harvey, o trabalho importante e em permanente expansão de criar e manter a vida urbana é cada vez mais realizado por trabalhadores precários, quase sempre em jornadas de meio expediente, desorganizados e com salários irrisórios.
Ainda seguindo a narrativa de Harvey, a cidade tradicional foi morta pelo desenvolvimento capitalista descontrolado, vitimada por sua interminável necessidade de dispor da acumulação desenfreada de capital capaz de financiar a expansão interminável e desordenada do crescimento urbano, sejam quais forem suas consequências sociais,ambientais ou políticas.
Reforçando a imagem, o barato sai caro, como diz o popular.
