Por uma cultura urbana que incorpore a água

Nesta semana, marcada pela divulgação de que este inverno paulistano é o de maior pluviosidade dos últimos 60 anos nos convida a pensar sobre a maneira com que tratamos a água na cidade. O fato de da cidade de São Paulo ter-se transformado em um aglomerado com uma área de 1509 km² e população de cerca de 12 milhões de habitantes, determina que, concomitantemente com o gerar de riquezas para todo o Brasil, esta aglomeração gera problemas de igual dimensão.

A localização da cidade de São Paulo, tanto do ponto de vista das relações que se formaram já no Brasil colônia, quanto do ponto de vista ambiental, mostrou-se favorável ao assentamento humano, por meio de um relevo suave, formando a bacia sedimentar de São Paulo.

A maior parte do território do município se situa na bacia hidrográfica do Alto Tietê que corresponde a uma área de cerca de 5900 km², drenada pelo rio Tietê, que nasce no município de Salesópolis, passando por São Paulo e cortando o estado, em direção ao interior, até desaguar no rio Paraná na divisa do Estado.

Rio Tietê 2

O grande geógrafo paulista Aziz Ab’Saber afirmou que a principal originalidade geográfica do sítio urbano de São Paulo reside na existência de um pequeno mosaico de colinas, terraços fluviais e planícies de inundação. Até meados do Séc. XX a urbanização se concentrou sobre os terrenos mais favoráveis à ocupação, expandindo-se posteriormente para as áreas de relevo mais acentuado.

Em termos do aproveitamento dos recursos hídricos, no início do século XX a construção das represas Billings e Guarapiranga na zona sul, modificou completamente o encaminhamento e aproveitamento dos principais rios da cidade, subordinando-os a uma finalidade principal – a da produção de energia. Tal opção destinou a coleta de esgotos às correntes hídricas como forma de garantir vazões adequadas à geração de energia elétrica na Usina Henry Borden, já na Baixada Santista.

Esta decisão, longe de ser simplesmente técnica, atendeu às necessidades econômicas da empresa que então explorava a concessão da energia e do saneamento na cidade – a São Paulo Light and Power. Dessa maneira chegamos aos tempos atuais onde o crescimento da mancha urbana que hoje ocupa 2209km² foi fatal para os rios, córregos e manaciais da região. Ainda que houvesse capacidade local para o habastecimento humano, a crescente diluição de esgotos e o aumento da presença dos resíduos sólidos, tornou esta tarefa impossível.

No entanto, o crescimento da população e a sua demanda por água potável tem apresentado números que se encaminham para uma situação de colapso: em 1996 a população era de 9839436 habitantes com um consumo por pessoa ao ano de 57 m³ de água. Em 2000, a população recenseada foi de 10434252 habitantes com um consumo por habitante ao ano de 65 m³ de água. No entanto, se o consumo tendeu a aumentar tanto individualmente quanto coletivamente, no mesmo período a disponibilidade hídrica caiu de 72,9 mil litros por segundo para 67,8 mil litros por segundo.
Esta diminuição foi causada pelo aumento da demanda da região de Campinas que se abastece na mesma bacia, a do Piracicaba, e que é responsável por quase 50% da água que consumimos. Os restantes 50% são captados, em menor escala, no Alto Tietê, Rio Claro, Alto Cotia, Baixo Cotia, Guarapiranga e Rio Grande.Rio Tietê 1

Indo ao encontro desses números, os estudos desenvolvidos por vários grupos de estudiosos apontam para o esgotamento do sistema na forma como se organiza e indicam uma futura disputa regional pelo recurso.

Os caminhos, no entanto, passam pela recuperação ambiental dos recursos hídricos locais, diminuição das perdas na distribuição, e, seguramente, por meio da construção de uma nova relação entre os habitantes e os córregos e rios. Para que esta relação se modifique é importante a implantação dos Parques Lineares nas várzeas dos rios assim como a sua recuperação em termos da qualidade da água. Somente a partir da co-responsabilidade com aquilo que se pretende preservar é que conseguiremos modificar as nossas relações com o ambiente, por meio de uma cultura urbana em consonância com a água e não em conflito com ela.

5 Respostas to “Por uma cultura urbana que incorpore a água”

  1. josé emidio Says:

    gostaria muito de participar desta luta por recuperar a marca registrada de são paulo, geografica e historicamente!, temos que fazer todo o possivel e mesmo o” impossivel”
    para que o rio da cidade assim como seus afluentes metropolitanos sejam não somente recuperados, mas até mesmo melhorados!!
    sim isto pode e deve ser feito, para motivar-nos existem, varios projetos de grande exito, sobretudo, na europa, ex: londres, paris, lyon!!, etc.
    contem comigo, devemos ao mesmo tempo sensibilizar toda a poulação, de forma à obtermos total e absoluto sucesso!
    não devemos de forma alguma!, deixar que este projet, magnanimo e imprescindivel para são paulo, seja feito de forma amadora, ou pela metade como costumam
    ser quase todas as obras no brasil!
    não aqui se fala da sobrevivencia da cidade!, é preciso que todos tomem conhecimento e possam assim compreender, a importancia mais do que capital do rio tietê, para o futuro da cidade e de todos!
    no futuro, serà mesmo a maior das atrações naturais da capital bandeirante!!
    devemos aliàs ser corajosos, destemidos e visionarios neste grande projeto, além de limpar recuperar, recobrar o oxigenio e os peixes!, deve-se adaptà-lo à imensa metropole!
    como exmplo, suas margens não devem continuar sendo, simples auto-estradas, feias e poluidoras!mas sobretudo inumanas!!, uma verdadeira cicatriz no “rosto” da cidade!
    como em londres, lyon ou ainda paris, deve-se recuperar essas margens, com a instalação de jardins, monumentos, belas construções, moradias, parques, enfim humanizà-las!!
    quanto ao problema do trafego, se podem construir, tuneis, como se faz em todo o mundo, nas grndes cidades, como jà foi feito também em são paulo, no ibirapuera poe exemplo, sendo que não é o unico!, assimas superficies respiraveis serão tratadas e humanizadas para toda a população, e o trafego obterà seu espaço previlegiado e fluido, de que tanto nescessita, isto tudo sem interferir da forma tragica como a que por hora caracterisa tantos logrdouros paulistanos outrora espaços de vida e convivialidade, hoje, locais infadonhos, totalmente dedicados ao transito(viadutos,etc)enfeiando a paisagem e destruindo a imagem da cidade, sim isto tem que ser levado em conta, sem obras de grande imensa envergadura, não se poderaà mudar o quadro atual que é simplesmente lamentavel!!
    por isso falei em coragem, a coragem politica! coragem civica e dos meios e midias utilizados para a mobilização que se farà tão nescessaria além é claro de uma vigilancia sem defeitos pois a população, e o governo não pode mais tolerar que sejam as grandes instalações(industrias, serviços publicos ou privados, ex:hospitais, etc.)sejam as pequenas moradias, e mesmo o simples cidadão que passeia e impunemente e incivilizadamente!!, joga detritos, onde não deve! sic
    sim creio mesmo que sera uma das partes mais dificeis de se organizar, mas querendo tudo podemos!! Quanto à verbas, e outros dineiros, isso não é problema nem nunca foi na capital economica do continente! sic
    E porque dinheiro é que não faltara!, basta sermos absolutamente e integralmente honestos!, serà que isto seria impossivel? creio sinceramente que não! Além disso,
    são paulo esta entre as dez mais fabulosamente ricas e potentes cidades do mundo!!
    querem mais?, seria pedir demais não é verdade?!
    bem contam comigo, sou urbanista, e paulistano, não tenho interesse nenhum em vilipendiar minha querida cidade, ao contrario, se puder trabalhar por ela serà minha grande satisfação, pelo bem dela e de todos.
    São Paulo merece!

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    • gotaspaulistas Says:

      Caro Jpsé Emídio: a luta por uma cidade com memória, equilibrada, justa e, poque não, muito prazeirosa de se viver deveria ser a meta do milênio. Chegando-se nela poder-se-ia ver que todos os nossos problemas já teriam sido resolvidos. Agradecida pelo comentário,
      Helena Werneck

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